segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A sacoleira de desculpas

   As mesas arrumadas lado a lado com seus respectivos computadores. A platéia chega logo cedo. A desculpeira é sempre a última a chegar.  O palco está pronto para sua atuação. Ela sempre chega afoita. Empurra a porta com rapidez e vai logo contanto o porquê do atraso. Sempre conta uma história mirabolante.
   Com sua sacola de desculpas faz uma seleção de toda trajetória. A seleção é feita a partir da reação do público. Caso aceitem de cara a justificativa seleciona  as verdes, que são as desculpas mais leves, caso contrário as cores fortes, que representam perigo e agilidade para argumentar. 
   A história sempre tem muita ação e vítimas. Ela sempre anda e percorre vários lugares para chegar até o trabalho.  Usa de várias formas para vender o seu produto. Primeiro capricha no visual, os cabelos longos e ondulados e com maquiagem. E acredite que, mesmo andando de ônibus, ela chega impecável.
  A sacoleira de desculpas tem uma boa retórica. Consegue convencer. A expressão é outra forma de confirmar o porquê do atraso. Ela gesticula e fala com eloqüência. Caminha de um lado para o outro. Tenta dar concretude ao que fala.
  Depois de justificar a sua demora inicia seu trabalho. A sala fica em silêncio. Não demora muito para a sacoleira de desculpas desarmonizar o ambiente. Uma nova desculpa é preparada para sair da sacola. Começa a murmurar baixinho para que alguém pergunte o que está acontecendo. Começa a lamentar que não possa fazer o trabalho porque tem problemas no computador.
  Os problemas sempre acontecem com ela. A internet não funciona, quando o trabalho está quase pronto ou acaba desligando o receptor sem querer.  O ônibus sempre atrasa quando está esperando. Ela vive no mundo do ‘quase’.
  Com sua sacola de desculpas percorre todos os lugares. Sempre tem justificativa para suas ausências.  A sacola sempre balança para que novas desculpas possam ser produzidas. Fim de semana com muita festa no domingo. O que a sacoleira faz?Vai curtir . No dia seguinte chega ao trabalho com mais de duas horas de atraso. A desculpa sai quentinha do formo. A sacoleira afoita e com sua voz eloqüente usa seu poder de argumentação. Afirma que não acordou porque esqueceu de programar o despertador, o horário programado era o do final de semana.
  Na hora da divisão do lanche nunca senti fome.  Argumenta que já tomou café em casa. Ou que está sem fome. Sempre tem uma justificativa para não colaborar com as vaquinhas que são feitas para o café e o lanche.
   A desculpeira nunca admite que esteja sem dinheiro para comprar ou ir a lugares. Se chamarem para ir ao cinema dar um grande discurso discordando do valor cobrado para assistir a um filme.  Aprecia a pirataria .
  A sacoleira de desculpas quando vai sai com os amigos de trabalho, na maioria das vezes acaba esquecendo a carteira em casa. Na hora de pagar a conta procura incansavelmente dentro da bolsa, mesmo sabendo que deixou em casa, e com a testa franzida lamenta o fato ocorrido. Simula constrangimento e repete a todo o momento que no dia seguinte vai reembolsar os colegas.
  A sacoleira de desculpas está sempre com uma justificativa pronta. Antes de dormir sempre faz uma avaliação de como foi o dia.  Fecha os olhos e abre a sacola para seleciona as  melhores. As que possuem um maior poder de convencimento. Parece imaginar as variadas situações que poderá passar. Só essa preparação justificaria a sua retórica para lidar com o público. E assim, a desculpeira caminha com sua sacola pelo nosso cotidiano.

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