domingo, 10 de julho de 2011

Frio + recordações= saudade

   O frio sempre nos traz recordações, solitárias mais mesmo assim boas lembranças. Acordei e as serras estavam cobertas pela neblina. Estavam branquinhas e um vento gelado soprava sobre o meu rosto. As lembranças de momentos bons começaram a passar pela minha cabeça.
   Sempre estamos reclamando da mesmice do cotidiano, mas existem coisas que acontecem todos os dias e nem percebemos que elas aconteceram. Em uma das suas crônicas Martha Medeiros relata coisas que acontecem todos os dias, e que mesmo assim não deixa de ser belo. O nascer e o pôr do sol é uma delas.
  Na verdade, acho que depende da forma como vivemos. Somos nós que decidimos se queremos ou não fazer a vida valer à pena. Sentar no seu sofá e esperar que algo aconteça é querer permanecer na mesmice, é ter preguiça de viver.
  Voltando ao frio, pois bem, é algo que nos acompanha sempre, e que pode ser visto como rotina. É tão chato acordar cedo no frio e ir trabalhar. Está na rua e de repente começa a chover, aquela chuva  fria no seu corpo. E aquelas pessoas que não tem abrigo tem o frio como seu principal inimigo.  Mês de junho, por exemplo, uma pessoa morreu em São Paulo por causa do frio.
   Por outro lado, o frio, no meu caso, trouxe recordações gostosas. Imagine acordar cedo  na casa da avó, não ter trabalho para ir e ter seu dia inteiro livre. Sentar na beira da porta e curtir o friozinho com o barulho das galinhas e o cheirinho do café. Ou ainda está com alguém que você ama embaixo do cobertor, a vontade é de nunca mais sair da cama. Congelar aquele momento para sempre..
   Ainda que não esteja com quem gostaria, acho que a saudade faz um belo par com o frio, pois queremos  nos sentir protegidos, ou melhor aquecidos. Lembrar do outro, o frio faz com que valorizemos nosso parceiro. Você faz uma reflexão sobre tudo que já viveu, e  claro, sempre lembra dos momentos memoráveis.
   Aprendi que as coisas da vida dependem do nosso olhar, e da forma que vivemos. O frio me fez chegar a essa conclusão, pois ao acordar e me deparar com ele, comecei  uma sessão de nostalgia. Relembrar coisas que deixa feliz e ver o quanto algo rotineiro pode ser diferente, dependendo apenas de mim. O frio é apenas um exemplo de muitas outras coisas que está inserido no cotidiano e passam despercebidos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O incendiário


Às vezes aparece cada figura no seu caminho que parece até gozação. Nos dias atuais está na moda protestar através das redes sociais. Que fazem uma movimentação, marca no twitter, facebook, ou envia sms. O importante é aglomerar. Mas se você não dispõe desses equipamentos tecnológicos ou não tem acesso às redes sociais. Vale optar pelo protesto no gogó.
Voltava para casa por volta das 22h45, quando um senhor pediu a atenção das pessoas que estavam no ônibus. Para ser sincera, nem estava a fim de ouvi-lo.  Ele estava do outro lado da catraca, então deveria ter mais de 60 anos. O ônibus já saia do terminal quando se levantou e começou a falar:
“Pessoal, queria pedir a atenção de vocês. Não sou dono de empresa, apenas um usuário como vocês. E venho aqui para reclamar da demora desse ônibus. A gente chega aqui e fica horas com ele parado. É um absurdo isso.”
Algumas pessoas concordam com o senhor da demora do ônibus. O local de destino é Areia Branca. Eles gastam por volta de uma hora para ir e voltar. E naquele horário era o último ônibus da noite.   O mais surpreendente foi à proposta do senhor com todas essas condições:
“Quem aqui topa colocar fogo nesse ônibus agora levanta a mão.”
Apenas três pessoas levantaram. O senhor ficou indignado com a passividade dos usuários. Sentou-se e resmungava frustrado o fracasso do incêndio.
Fiquei pensando como  nos acostumamos a tudo. E quando aparece alguém disposto a protestar por um direito seu acaba saindo como louco ou revolucionário. A demora do ônibus é apenas uma coisas simples do cotidiano  a qual já nos habituamos. E assim, no acostumamos com os problemas do nosso país, sem buscar soluções. A corrupção se torna algo banal, porque é normal roubar o dinheiro que pagamos com tanto sacrifício. Esse é o grande mal do homem se acostumar, quando deveria movimentar-se em busca  de soluções.



sábado, 28 de maio de 2011

Discutindo a relação

Quando o assunto é discutir a relação temos a falsa ideia de que só as mulheres fazem isso. E logo as imaginamos reclamando de tudo, e  relembrando acontecimentos que passaram há muito tempo. Isso é o que mais irrita neles.  Brigar por algo que aconteceu semana passada, ou até meses atrás, e ela relembra de cada detalhe e para incrementar o discurso, discuti tudo novamente. Essa coisa de homem é racional e mulher guiada pelas emoções, às vezes funciona, mas o homem também tem seu lado emocional e gosta de discutir relação. Isso é tão verdadeiro que eles nem escolhem lugar para fazer isso. Um ônibus, por exemplo, pode ser um lugar ideal.
Por volta das 5h da manhã, quando ia para o estágio, no ônibus sonolenta com a cabeça encostada no meu braço minha única vontade era está na minha cama. Cochilava em pé quando ouvir pronunciarem Feira de Santana. Fiquei alerta e comecei a ouvi a conversa de dois homens que conversavam em alto e bom som sobre sua vida conjugal. Na verdade, apenas um deles falava sobre suas aventuras amorosas e sobre seu casamento frustrado. Fiquei surpresa com o que estava presenciando. Eu sempre achei que mulher que gosta de DR, homem era aquela coisa mais objetiva e racional. O outro amigo servia como seu divã, em que ele  desabafava suas angústias, dor, medo e aventura.
Primeiro relatou sobre uma aventura amorosa que teve durante o carnaval:
“Rapaz, esse carnaval curtir pra caralho. Tudo pago. Saí em três camarotes em Salvador.”
“Três? Estava cheio da grana mesmo.”
“Que grana? Arranjei uma coroa pra me bancar, o problema só foi que depois do carnaval ela queria algo mais sério. E eu lá queria compromisso em pleno carnaval.”
“É assim mesmo, tem mulher que se ilude com qualquer carinho a mais. E você fez o quê pra dá o zigue nela?”
“Arrumei minhas coisas e fui embora. Ela era até bonita, mas pegava muito no meu pé. Mulher assim não dá certo. Ia marcar pesado.”
“Vem cá, você ainda está casado?”
“Voltei para minha mulher. Ela insistiu e acabei voltando. Mas ela nem sonha com essa história.”
“Vocês ficaram quanto tempo separados? Deve ser ruim ficar longe dos filhos, de alguém que cuida sempre de você.”
“Nem fale, no começo foi difícil, mas acabei me acostumando. Eu estava cansado de vê ela indo para casa da mãe. Toda semana, chegava cansado querendo minha mulherzinha. Ai teve um final de semana que cheguei em casa e ela se arrumando para viajar para o interior. Pensei ‘hoje a casa cai’ falei com ela que se fosse com a mãe quando chegasse não iria está mais em casa. Pois, ela se mandou, e eu também. Liguei para minha mãe perguntei se podia ficar em casa, ela deixou. Quando voltou não estava mais lá.”
“E sua filha?”
“Minha princesinha foi a coisa que mais senti falta. Mas ela levava sempre lá em casa. Depois começou pedir para voltar, me ligando todos os dias. Sozinho, carente acabei voltando. Nessas horas parece que não existe mulher no mundo. É só você está casado que chove mulher."
“Eu sempre quis saber se quando você volta de uma separação é a mesma coisa. Tudo volta ao normal?”
 “Não é a mesma coisa. Tem horas que me dá uma raiva quando olho pra cara dela. E lembro de tudo, das raivas que me fez, mas também penso na minha princesinha. Ai tudo passa. A gente tenta levar numa boa, mas é difícil.”
“Entendo como deve ser. Mas o que importa é que está tudo bem, né cara?”
“Que bem? Ela sempre arruma alguma coisa para reclamar. Nunca está satisfeita com nada. Mulher é problema na vida do homem, a gente nunca sabe o que elas querem.”
“Nem fale, a minha também inventa cada idéia. Tem dias que dá vontade de sumir. Reclama de tudo.”
“Estou construindo uma casa no terraço da minha mãe. Gastei o meu dinheiro que estava guardado. Agora ela quer morar em outro bairro. Disse que minha mãe vai interferir no nosso casamento. Agora porque ela não disse isso antes.”
“Paciência meu irmão, depois as coisas melhoram”.
“Essa tenho até demais.”
Desci do ônibus, e eles continuaram. O cara abriu o coração ali mesmo, o ônibus lotado e ele não teve receio de falar o que sentia. E o amigo questionava, buscava respostas através daquele depoimento. Até então, achava que homem não partilhava assim com tantos detalhes sobre sua vida pessoal, talvez seja um caso atípico. O tempo passou tão rápido que nem percebi que chegara ao meu destino. E lá se vai mais uma história, não sei o nome de ambos, mas achei legal a postura dos dois. Um de ouvir, qualidade rara, o outro de desabafar sem medo do que os outros iriam pensar.




quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tititi

Às 7h da manhã começa a movimentação. Aos poucos elas vão chegando e ocupando os lugares no ônibus. Começa aquele burburinho. 
Elas estão por dentro de tudo que acontece. E uma vai informando a outra sobre o que acontece na casa dos patrões. Parece mais um jornal diário de fofoca em que o  meio de transmissão é o telefone sem fio.  E ai de um que diga que estão fofocando, na linguagem delas isso é manter-se atualizado. Está por dentro de tudo que acontece para não correr o risco de passar pela mesma situação.
Tenho a sensação de está em uma feira livre, e não dentro de um ônibus. Mas a manchete da vez era Joana. A mais extrovertida do grupo pede para falar. Um tititi que estava rolando com a sua colega, que por sorte não estava no bus também.
“Maria você não sabe o que sucedeu com Joana?”
“O quê mulher?”
“A patroa deu um carro zerinho. E com pouco tempo a coroa morreu, agora a família quer tomar de volta.”
“Um carro zero, meu deus, que babado?”
“Patroa boa essa porque a minha nem os calçados velhos me dá.”
“A minha dá umas roupas usadas pras meninas lá em casa. Mas zero nunca, piorou um carro.”
 Chegamos ao primeiro ponto duas do grupo se despedem. No decorrer do trajeto a grande reunião vai se desfazendo. O barulho desaparecendo. Agora só as cigarras causam burburinho. A notícia repercutiu até no mundo animal.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Recomeçar sempre

    Já faz um bom tempo que não escrevo aqui. Mas por outro lado nunca esqueci esse espaço, e estava  a procura de algo interessante para escrever. Pensei em vários temas: cultura, música, crônica, enfim, de tudo pensei um pouco.

    E nessa busca incessante me dei conta de que poderia falar de algo que estava tão perto de mim, pessoas. Elas que fazem as histórias acontecerem e o mundo viver em metamorfose.

    Então, decidi abri esse espaço para histórias de pessoas desconhecidas que se cruzam todos os dias. Outro fato que observei, nesse período de reflexão, é que no ônibus acontecem os melhores enredos.  Já presenciei até fim de relacionamento. A partir de hoje essas histórias serão contadas aqui.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O vazio da saudade

   A saudade é o sentimento, que assim como o amor, não é possível entender nem tão pouco definir. Ela nos consome por dentro e abri um grande buraco na alma, sendo preenchido por lembranças de momentos que não voltam mais.

  Alguns sentem saudade de coisas que perderam e não podem ser restituídas causando uma incapacidade.  Essa é uma das piores. Dolorosa e sutil que vai se arrastando ao longo dos anos.  A lembrança de um amigo que mora distante. Alguém que partiu muito cedo. Objetos que trazem recordações de momentos marcantes.

  Uma caixa envelhecida com fotos e objetos guardada no canto do guarda-roupa. Quando a saudade resolve fazer uma visita, corre até lá e senta no chão. De repente parece estar em uma espécie de  museu pessoal e começa a 'matar a saudade'. Um bilhete de uma amiga da escola faz lembrar-se de momentos de travessuras no colégio. Uma cartinha de amor lembra seu primeiro beijo, e ai você percebe que coisas simples eram o que te deixava  feliz. E o diário? Mergulha nas suas anotações de coisas que marcaram aquela fase. Hoje, rir das bobagens que escrevia. Uma caixa envelhecida é capaz de arrancar gargalhadas e também lágrimas, pois a saudade faz você voltar a fases de superação.

  E as fotografias? Elas são capazes de guardar o exato momento de felicidade vivenciado pelas pessoas. Sentada no chão rodeada de recordações, as fotos fazem você fazer uma volta ao túnel do tempo. E recordar cada momento . Tenta mergulhar nas imagens a procura de lembranças daquele momento, e no seu interior a saudade fala por si 'Como eu era feliz'. As pessoas possuem o péssimo hábito e não viver totalmente o seu dia. E quando chega certa idade começa a lamentar do que deixou de fazer, e o que resta? A saudade de momentos vividos e também daqueles que passaram e você nem notou.

  Os sentimentos verdadeiros causam a saudade. Ela é a ponte entre as pessoas, e esse elo  não pode ser quebrado pela distância nem pelo tempo porque é algo verdadeiro.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Certo alguém

 Chega certo momento da vida que acreditamos que já vivemos tudo. Que a vida não tem mais nada de extraordinário para oferecer. Quando de repente surpreende e mostra que as coisas que a move é um ciclo interminável. Quando tudo parece que acabou, um novo ciclo está pronto para acontecer.
 O ciclo começa e acaba por colocar, de forma inesperada, pessoas que te fazem pensar e agir de forma diferente. Que desperta algo que até então parecia adormecido, um novo começo. Mas agora é diferente porque não é qualquer pessoa. É alguém que você jamais conheceu e que por isso senti medo de que tudo não passe de um sonho.
  Jamais poderia imaginar que um toque na mão esquerda pudesse significar tanto. Um gesto que acaba por aproximar duas pessoas vencidas pela timidez. Que sufoca o  desejo que senti pela incerteza dos sentimentos da outra pessoa.

   Humor  é uma das suas, digamos, armadilhas porque consegue prender nossa atenção, e quando percebemos já estamos envolvidos. Não mais por quem conta a história, mas pelo cara tímido que se esconde por trás dos seus personagens. O sentimento que provoca é uma grande curiosidade para descobri  quem se esconde.
  Encantamento talvez seja a melhor palavra para definir o que senti. Ele me cativou pela maneira de expressar-se. A forma como agia diante situações pelas quais passara, e mais que isso pelo seu jeito de ser. Em meio aos seus personagens (que imita muito bem) procurei encontrar o personagem protagonista que se escondia por trás de todos aqueles. 

  E mais uma vez a vida te surpreende, pois coloca pessoas especiais que trazem sentimentos únicos. Acaba por te fazer acreditar que sentimentos verdadeiros possam brotar.  E acreditar que uma simples mão esquerda pode significar carinho, respeito e companheirismo. E o que resta? Viver cada momento de forma intensa, sem se preocupar com o que possa vir depois. E esses momentos nem mesmo o tempo poderá me tirar.
E como diz Lulu Santos: “Quando um certo alguém desperta o sentimento é melhor não resistir e se entregar”.