sábado, 28 de maio de 2011

Discutindo a relação

Quando o assunto é discutir a relação temos a falsa ideia de que só as mulheres fazem isso. E logo as imaginamos reclamando de tudo, e  relembrando acontecimentos que passaram há muito tempo. Isso é o que mais irrita neles.  Brigar por algo que aconteceu semana passada, ou até meses atrás, e ela relembra de cada detalhe e para incrementar o discurso, discuti tudo novamente. Essa coisa de homem é racional e mulher guiada pelas emoções, às vezes funciona, mas o homem também tem seu lado emocional e gosta de discutir relação. Isso é tão verdadeiro que eles nem escolhem lugar para fazer isso. Um ônibus, por exemplo, pode ser um lugar ideal.
Por volta das 5h da manhã, quando ia para o estágio, no ônibus sonolenta com a cabeça encostada no meu braço minha única vontade era está na minha cama. Cochilava em pé quando ouvir pronunciarem Feira de Santana. Fiquei alerta e comecei a ouvi a conversa de dois homens que conversavam em alto e bom som sobre sua vida conjugal. Na verdade, apenas um deles falava sobre suas aventuras amorosas e sobre seu casamento frustrado. Fiquei surpresa com o que estava presenciando. Eu sempre achei que mulher que gosta de DR, homem era aquela coisa mais objetiva e racional. O outro amigo servia como seu divã, em que ele  desabafava suas angústias, dor, medo e aventura.
Primeiro relatou sobre uma aventura amorosa que teve durante o carnaval:
“Rapaz, esse carnaval curtir pra caralho. Tudo pago. Saí em três camarotes em Salvador.”
“Três? Estava cheio da grana mesmo.”
“Que grana? Arranjei uma coroa pra me bancar, o problema só foi que depois do carnaval ela queria algo mais sério. E eu lá queria compromisso em pleno carnaval.”
“É assim mesmo, tem mulher que se ilude com qualquer carinho a mais. E você fez o quê pra dá o zigue nela?”
“Arrumei minhas coisas e fui embora. Ela era até bonita, mas pegava muito no meu pé. Mulher assim não dá certo. Ia marcar pesado.”
“Vem cá, você ainda está casado?”
“Voltei para minha mulher. Ela insistiu e acabei voltando. Mas ela nem sonha com essa história.”
“Vocês ficaram quanto tempo separados? Deve ser ruim ficar longe dos filhos, de alguém que cuida sempre de você.”
“Nem fale, no começo foi difícil, mas acabei me acostumando. Eu estava cansado de vê ela indo para casa da mãe. Toda semana, chegava cansado querendo minha mulherzinha. Ai teve um final de semana que cheguei em casa e ela se arrumando para viajar para o interior. Pensei ‘hoje a casa cai’ falei com ela que se fosse com a mãe quando chegasse não iria está mais em casa. Pois, ela se mandou, e eu também. Liguei para minha mãe perguntei se podia ficar em casa, ela deixou. Quando voltou não estava mais lá.”
“E sua filha?”
“Minha princesinha foi a coisa que mais senti falta. Mas ela levava sempre lá em casa. Depois começou pedir para voltar, me ligando todos os dias. Sozinho, carente acabei voltando. Nessas horas parece que não existe mulher no mundo. É só você está casado que chove mulher."
“Eu sempre quis saber se quando você volta de uma separação é a mesma coisa. Tudo volta ao normal?”
 “Não é a mesma coisa. Tem horas que me dá uma raiva quando olho pra cara dela. E lembro de tudo, das raivas que me fez, mas também penso na minha princesinha. Ai tudo passa. A gente tenta levar numa boa, mas é difícil.”
“Entendo como deve ser. Mas o que importa é que está tudo bem, né cara?”
“Que bem? Ela sempre arruma alguma coisa para reclamar. Nunca está satisfeita com nada. Mulher é problema na vida do homem, a gente nunca sabe o que elas querem.”
“Nem fale, a minha também inventa cada idéia. Tem dias que dá vontade de sumir. Reclama de tudo.”
“Estou construindo uma casa no terraço da minha mãe. Gastei o meu dinheiro que estava guardado. Agora ela quer morar em outro bairro. Disse que minha mãe vai interferir no nosso casamento. Agora porque ela não disse isso antes.”
“Paciência meu irmão, depois as coisas melhoram”.
“Essa tenho até demais.”
Desci do ônibus, e eles continuaram. O cara abriu o coração ali mesmo, o ônibus lotado e ele não teve receio de falar o que sentia. E o amigo questionava, buscava respostas através daquele depoimento. Até então, achava que homem não partilhava assim com tantos detalhes sobre sua vida pessoal, talvez seja um caso atípico. O tempo passou tão rápido que nem percebi que chegara ao meu destino. E lá se vai mais uma história, não sei o nome de ambos, mas achei legal a postura dos dois. Um de ouvir, qualidade rara, o outro de desabafar sem medo do que os outros iriam pensar.




quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tititi

Às 7h da manhã começa a movimentação. Aos poucos elas vão chegando e ocupando os lugares no ônibus. Começa aquele burburinho. 
Elas estão por dentro de tudo que acontece. E uma vai informando a outra sobre o que acontece na casa dos patrões. Parece mais um jornal diário de fofoca em que o  meio de transmissão é o telefone sem fio.  E ai de um que diga que estão fofocando, na linguagem delas isso é manter-se atualizado. Está por dentro de tudo que acontece para não correr o risco de passar pela mesma situação.
Tenho a sensação de está em uma feira livre, e não dentro de um ônibus. Mas a manchete da vez era Joana. A mais extrovertida do grupo pede para falar. Um tititi que estava rolando com a sua colega, que por sorte não estava no bus também.
“Maria você não sabe o que sucedeu com Joana?”
“O quê mulher?”
“A patroa deu um carro zerinho. E com pouco tempo a coroa morreu, agora a família quer tomar de volta.”
“Um carro zero, meu deus, que babado?”
“Patroa boa essa porque a minha nem os calçados velhos me dá.”
“A minha dá umas roupas usadas pras meninas lá em casa. Mas zero nunca, piorou um carro.”
 Chegamos ao primeiro ponto duas do grupo se despedem. No decorrer do trajeto a grande reunião vai se desfazendo. O barulho desaparecendo. Agora só as cigarras causam burburinho. A notícia repercutiu até no mundo animal.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Recomeçar sempre

    Já faz um bom tempo que não escrevo aqui. Mas por outro lado nunca esqueci esse espaço, e estava  a procura de algo interessante para escrever. Pensei em vários temas: cultura, música, crônica, enfim, de tudo pensei um pouco.

    E nessa busca incessante me dei conta de que poderia falar de algo que estava tão perto de mim, pessoas. Elas que fazem as histórias acontecerem e o mundo viver em metamorfose.

    Então, decidi abri esse espaço para histórias de pessoas desconhecidas que se cruzam todos os dias. Outro fato que observei, nesse período de reflexão, é que no ônibus acontecem os melhores enredos.  Já presenciei até fim de relacionamento. A partir de hoje essas histórias serão contadas aqui.